sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Watchmen – para você não ficar por fora da transposição de uma das maiores obras dos quadrinhos para o cinema


Antes de começar a falar sobre o verdadeiro conteúdo do post que quero fazer um aviso e depois uma introdução. O aviso é: se você não é NERD não leia o post (o que de certa forma tira seu sentido, afinal um verdadeiro NERD não precisaria de um post sobre watchmen). Lá embaixo haverão SPOILERS, descrições de cenas do filme que podem estragar a “surpresa” dos não iniciados (forcei, hein?). Agora vamos a introdução.

Bom, transpor heróis pro cinema não é fácil... de um lado o público leigo, mais preocupado em botar os olhos num filme “massa veio”, do outro os fãs xiitas que exigem a transposição literal de toda mitologia envolvendo seu ídolo. No meio o estúdio que pensa, muita vezes, apenas no próprio bolso e, claro, parte para agradar a maioria nos brindando com um filme cheio de furos de roteiro e com personagens rasos mas cheios de (d)efeitos especiais. O público dos filmes pipoca quer ação, super-poderes e finais felizes. É preciso muita ousadia, e moral, para tentar transpor para telas uma obra como Watchmen da forma como ela realmente foi escrita. Apresentar heróis “reais” com defeitos, dúvidas, medos, e largá-los num universo minimamente parecido com o nosso, retratando como seria a reação do mundo a sua existência e as conseqüências políticas verossímeis é uma tarefa hercúlea.

Vejamos o caso de “Unbreakable”, de M. Night Shyamalan, traduzido no Brasil como “Corpo Fechado”. Putz, tradução porca, hein? Pois é... parece, né? Mas trata-se de uma tradução caça-níquel. Corpo Fechado remete a ubanda, a espiritismo, magia. O título foi uma forma de pegar carona no sucesso anterior do até então desconhecido diretor, pegar carona em “O sexto sentido”. Safados os caras. O filme foi rejeitado. Além do problema óbvio – milhares de pessoas que foram ao cinema esperando ver um suspense ou terror e se deparam com um drama – teve ainda o fato de que o filme falava de algo que muita gente não queria saber: como seria um super-héroi em nossa realidade. No filme Bruce Willis descobre ter um super-poder de verdade, ser indestrutível. Descobre também ter sua própria kripitonita, a água, resultado de um trauma psicológico por um quase afogamento na infância – uma genial forma de inserir uma fraqueza num homem que não pode ser machucado, a fraqueza está na cabeça dele! Diante disso não sabe o que fazer com seus recém descobertos poderes. Seguir um pacato pai de família ou ser um herói? O que ganharia com isso? O que perderia? O filme retrata de forma muito legal, intimista e bem psicológica, todo desgaste do personagem para descobrir seu lugar no mundo. Resultado? Bem, não era um filme “massa veio” e foi coberto de cacete pelos leigos e elogiado pelos Nerds.

Porque falei sobre tudo isso? Bom, o Watchmen que vai para os cinemas não é a adaptação fiel das HQs e nem poderia. Se fosse seria um filme para poucos. Não houve ainda adaptação fiel, literal mesmo, de nenhum personagem de quadrinho. Desafio qualquer um a me provar o contrário nos comentários. NENHUMA. Cinema é grana. Os estúdios pensam assim e pronto.


Watchmen
Escrita por Allan Moore, vulgarmente chamado de Deus, a série utilizou conceitos e abordagens até então só aplicados em quadrinhos alternativos, transformando-se num marco tão importante, alguns diriam até mais, quanto o Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.

A série retrata um mundo bem próximo da nossa realidade onde os “heróis” já estiveram em atividade. Uso as aspas porque nenhum deles, NENHUM dos “heróis” de Watchmen se encaixam na imagem romântica que temos de um herói de verdade. São seres defeituosos, problemáticos e danificados, que não possuem poderes de verdade (com exceção do Dr. Manhattan), que muitas vezes assumiram um uniforme com objetivos pouco altruístas.

Os personagens são construídos com base em alguns dos bastiões dos quadrinhos.


Dr. Manhattan
Fruto de um acidente científico tem poderes de um Deus. Não é mais um humano, é um ser único, solitário, caminhando entre nós. Uma representação clara do Superman (apesar de afirmarem que ele é baseado no Capitão Átomo).



Coruja
Intelectual, Rico, Solitário e sem auto-estima. Usa sua fortuna para combater o crime criando gadgets e armas. Seria uma mistura de Batman com Besouro Azul.



Comediante
Um facínora cínico, imoral e brutalizado, capaz de cometer crimes hediondos seguindo seu próprio código de ética. O justiceiro na sua fase mais doentia.



Espectral
Assumiu o manto da mãe, tornado-se uma heroína a contragosto. Trata-se de uma atleta e lutadora bem treinada. Baseada na Canário Negro mas sem os poderes.



Ozymandias
Indicado como o homem mais inteligente do mundo, treinou até atingir a excelência humana em seus dotes físicos, reflexos e capacidade de combate. Egocêntrico, Visionário e Inescrupuloso.



Rorschach
Psicótico, paranóico, solitário e agressivo. Detetive e grande lutador foi baseado no Batman e no Questão. É, para muito, o personagem principal da série.

A série, num resumo muito porco - me aprofundar significaria mais um daqueles posts imensos que todos vocês odeiam, se passa em 1985, num mundo onde os EUA, com a ajuda dos poderes do Dr. Manhattan (um ser de tamanho poder certamente faria toda diferença no equilíbrio político mundial), venceu a guerra do Vietnã. Os heróis que antes combatiam o crime são forçados a se registrar – por imposição política e devido a uma série de protestos contra o fato deles agirem acima da lei (muito lógico em nosso mundo real onde heróis viveriam sendo processados por bater em criminosos, quebrar carros e causarem acidentes) e alguns optam por se aposentar. O Comediante e Dr. Manhattan passam a trabalhar para o governo, Ozymandias transforma sua imagem numa marca e cria uma mega corporação, Rorschach segue como um vigilante renegado. A trama tem início quando o Comediante é assassinado e Rorschach, acreditando que existe um matador de heróis a solta, passa a investigar o assassinato alertando os antigos companheiros e tomando-os por suspeitos.

Por trás da morte do comediante existe um plano maior e as pistas que levam a este plano forçam os heróis a voltarem à ativa e unirem forças. A história segue de forma crua, impactante, violenta e pessimista, terminando longe de um final feliz.

O filme
Quando os primeiros trailers começaram a vazar na WEB o mimimi começou. O coruja das telonas está longe de ser o loser dos quadrinhos. A Espectral parece segura de si. O Dr. Manhattan não está nu. O Rorschach dá pulos dignos de Matrix. O filme está mais soft e mais “massa veio”. Acreditem ou não, a imensa maioria de fãs da série não a queria ver transposta para o cinema. Era quase certo que se tornaria uma verdadeira heresia, diziam.

Ao vazar a informação de que o final havia sido mudado o mimimi se tornou ainda mais intenso. Nos quadrinhos o plano do Ozymandias é simular uma invasão alienígena, com monstros imensos atacando as grandes capitais, forçando o mundo a se unir em prol de um bem comum: a defesa da Terra. No cinema optaram por uma série de explosões simulando os poderes do Dr. Manhattan (o que, em minha opinião, lançaria o mundo contra os EUA) afirmando que seria um final mais “elegante”. Se antes já havia o temor de que Rorschach não fosse desintegrado pelo Dr. Manhattan a coisa piorou consideravelmente.

Opinião
Mas, Eden, o que você acha? Será um filme bom? Well, pequeno gafanhoto... Acredito sim que será um bom FILME mas não acho que será uma boa adaptação. Dá pra entender a diferença?

Desse mato pode sair lebre sim, mas não dá pra afirmar a cor da bichinha. Acredito que veremos um bom filme, muito bem produzido mas muito longe da profundidade e da genialidade da obra nos quadrinhos.

Minha opinião então é a seguinte: vá ver o filme sem grandes expectativas e não deixe de ler os quadrinhos. Fiquem com último trailer.

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