O ano era 1994 e eu trabalhava na Copiadora Nacional. Nesta época eu tinha montado o primeiro sistema de impressão digital utilizando copiadoras XEROX do nordeste e, devido a qualidade até então nunca vista, havia sido surpreendido com um fluxo de serviço monstruoso. Um belo dia um dos operadores me avisou que um cliente havia me dito que era um amigo meu de infância e que queria conversar comigo pra ver se eu podia fazer uma forcinha pro material dele sair na frente.
Confesso que ao ver o cara saquei logo de quem se tratava. Vavá, um Zé Ruela que havia me acertado inúmeros cascudos e chulipas durante minha infância. Naquele tempo eu devia ter uns 5 ou 6 anos e ele uns 14. Na mesma hora me veio a cabeça a dor de cada uma das vezes que Vavá havia torcido meu braço para trás e me acertado uma violenta chulipa. Perdi a conta das vezes em que engoli o choro para não dar o gostinho a ele. Agora ele estava ali, com o emprego na reta se não chegasse num cliente com um relatório que seu chefe havia pedido para ser impresso APENAS com aquela qualidade assustadora da Copiadora Nacional.
- Ô Eden, tudo bom?
- Bom dia... você é o... – me fiz de desentendido.
- Vavá, cara. Vavá da rua de trás! Lembra? Brincavamos juntos!
- Vavá.... hum....
- Waldemar, velho. Sobrinho do dono do fiteiro.
- Ah, sim, Vavá.
- Pois é amigão, to precisando de uma forcinha tua. É que...
- Não era o mesmo Vavá que vivia me dando uns cascudos e chulipas?
- ...
- Era sim, lembro... o que você queria mesmo?
- É... nada não. Só cumprimentar mesmo.
O cara sentou novamente, com cara de amuado. Alguns instantes depois passou o gostinho da vingança e resolvi ajudar o infeliz.
- ... pois é, obrigado aí, Eden. Espero que não tenha ficado chateado. Era coisa de criança.
- Eu era criança. Você não.
- ...
- Mas nunca entendi porque você me batia tanto.
- Cara... era ciúmes mesmo.
- Ciúmes?
- É, velho. Eu era doido atrás das meninas e elas só queriam saber de dar selinho em você, te pegar no colo, brincar contigo.
- ...
- Enquanto eu sonhava em pegar na mão delas tu vivia dando beijinho, no colo, com a cabeça deitada nos peitos delas.
Pois é, gente. Eu era bonitinho mesmo nessa idade. E por ser o único pivetinho dessa idade na rua eu era o brinquedinho das meninas. E pirralho quando é bonitinho pode tudo. Enquanto Vavá era um adolescente punheteiro cheio de espinhas eu era um pivetinho sorridente com cabelinho de cuia. Eu me dava bem, eu podia tudo, Vavá podia apenas dar cascudos e chulipas em mim. Aí, ontem, vejo o vídeo abaixo e chego a seguinte conclusão: eu não aproveitei essa fase como deveria. Não mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário