sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Histórias do velho Lunga


O velho Lunga, cujo nome real é Joaquim Rodrigues do Santos, tornou-se, a contragosto, uma das mais memoráveis figura do folclore nordestino. Hoje é impossível separar o homem do mito, ele, seu Lunga, hoje é a soma de todas as histórias que se espalharam a seu respeito.

Arilo Luna em seu livro Na Terra do Arre Égua conta um pouco do processo de construção da personagem seu Lunga:

"As estórias de Seu Lunga são contadas por todo o Nordeste. São casos hilariantes que cruzaram fronteiras, levados por viajantes, estudantes, caminhoneiros, e tornaram-se prato-seleto para os anedotistas. Negociando com sucatas há mais de vinte anos, em Juazeiro do Norte, Lunga tornou-se famoso por ser considerado o protótipo do homem bruto, ríspido, que tem sempre uma reposta contundente na ponta da língua." (LUNA., p. 211)

E o autor registra também sua construção pessoal com relação a seu Lunga:

"De minha parte, uma vez que conheço de perto o velho sucateiro, teimo em afirmar que Lunga apenas tem uma maneira simples e linear de encarar o mundo. Espirituoso, preciso nas respostas, detesta palavras enganosas, perguntas tolas e arrodeios." (LUNA, p. 212)

Seu Lunga, cujo apelido é um corruptela de Calunga, não suporta as piadinhas que se contam em cada canto dessa terra sobre sua famosa “brabeza”. Segundo ele trata-se de invencionices desse povo desocupado. As piadas, diz Lunga, se devem apenas ao fato dele não suportar perguntas bestas. Questionado sobre um exemplo ele contou a seguinte história:

Um cabra entrou na loja de ferragens do lunga e, olhando um ventilador desligado, perguntou: “E esse ventilador está funcionando?”. Lunga de pronto respondeu: “Claro que não, cabra broco, se ta desligado como pode estar funcionando, sua peste?”

Hoje o Lunga folclórico é muito maior que o histórico, sem dúvida. Suas peripécias são, de boca em boca, espalhadas pelos quatro cantos do Brasil, sempre enaltecendo a “grossura” do personagem. Que tal lermos algumas dessa pequenas histórias do dito homem mais grosso do mundo?

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Lunga, depois de muita insistência de sua nega velha, resolveu ir com as filhas a uma pizzaria. Chegando lá sentou-se na mesa com suas filhas e esposa.

- Ô vivente, traga uma coca-cola gelada!
- Família, seu Lunga? - disse o garçom se referindo ao tamanho da Coca.
- Não, tudo puta! Anda logo com isso e deixe dessa sua conversa besta!

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Lunga, num sábado de sol, resolveu comer no Bode do Totonho.

- Totonho, macho veio, traga aí um bode guisado, uma farofa de bolão e uma pimenta daquela que faz gato piar.

Totonho conhecendo seu cliente tratou de trazer tudo que Lunga pediu. O velho Lunga logo misturou a farofa com o guizado, fazendo um cimento aprumado, de primeira. Tacou pimenta sem dó e deu uma garfada.

- Totonho, seu jegue, eu peço pimenta e você me serve essa água com coloral.
- Mas Lunga, essa aí de malagueta das bravas.
- Homi deixe de pantinho, traga logo uma pimenta decente antes que eu lhe serre os cornos. Eu quero daquela que fez o jumento voar. Ande logo com isso, avia, homem, avia...

Totonho então tratou de servir uma pimenta tão braba que ele usava pra desentupir pia.

- Tome aqui, Lunga, mas essa aí é aquela que quando pinga na carne crua a bichinha cozinha na hora.

Lunga então começou a espalhar a pimenta gota a gota sobre o cimento.

- Lunga, homi de Deus, você ta doido, vá devagar nessa pimenta.

Como não gosta de gente entrona, só pra fazer o mal, Lunga tirou a tampa furada e levou a pimenta a boca dando uma golada. Na mesma hora o homem ficou vermelho feito bunda de neném e pelo canto do olho lhe desceu uma grossa lágrima enquanto ele fazia todo tipo de careta.

- Ah, ardeu, foi? Tá aí chorando, é?
- Que chorando que nada, homi de pouca fé. Essa lágrima é de saudade de pai. Ô homi bom chegado numa pimenta...

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Carlinhos vinha pela estrada de barro, seguindo com sua caminhonete, quando já perto a cruzar a pequena ponte viu que seu Lunga vinha do outro lado, com sua variante. A ponte, mais estreita do que ossada de cobra, mal dava para passar um carro. Carlinhos então buzinou e acenou para seu Lunga que estava parado do outro lado.

- Ô seu Lunga, dê uma rezinha aí pra eu poder passar. To numa pressa dos infernos.
- Você não ta com mais pressa que eu, macho velho. Dê ré você.
- Ô seu Lunga, deixe de ser assim, homi, de uma rezinha só.
- Já disse que daqui só sigo se for pra frente.
- Pois nem eu nem tu, velho bronqueiro.
- Pois nem eu nem tu, cabra babão.

Espumando de raiva Carlinhos desligou a caminhonete. Lunga prontamente desligou a variante. Carlinhos então tirou o sapato e colocou o pé sobre o painel do carro. Lunga fez exatamente o mesmo.

- Olha, seu lunga, olha o que eu achei aqui – disse Carlinhos balançando um Almanaque Abril pela janela – Vou ler esse danado todinho.
- Pois quando acabar me empreste que eu não tenho nada melhor pra fazer!

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Lunga caminhava junto a sua Velha, indo para Igreja quando resolveu dar uma coçada na cabeça por cima do chapéu.

- Mas que coisa feia, meu velho. Tire o chapéu pra coçar a cabeça.
- Você por acaso tira a calça pra coçar a tabaca?

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Dois engenheiros estavam em Juazeiro instalando uma antena de repetidora de TV quando deram por falta de um parafuso. Procuraram por todo canto e nada. Logo os operários aconselharam a ir na loja de ferragem de Lunga. “O velho tem de tudo lá, pode ir sossegado Dr.”.

Sem opção eles seguiram o conselho.

- Opa, boa... – cumprimentaram o velho com um aceno de cabeça enquanto se aproximavam – Aqui é a loja de ferragem?
- Não, é uma padaria. É que aqui servimos uma tipo de pão diferente, com mais ferro...

Os dois deram um risinho bobo e, acabrunhados, foram entrando.

- O Sr. por acaso teria aí um parafuso com porca de 1 ½?
- Tem aí na caixa de parafusos. Fique a vontade para procurar.

Os dois reviraram a caixa e não encontraram.

- O Sr., tem certeza de nessa caixa tem esse parafuso?
- Procure.
- Mas não estou achando...
- Procure.
- Mas já revirei tudo!

Lunga levantou-se e, sem pressa alguma, arrastou as alpercatas até a caixa. Enfiou a mão e retirou, de pronto, o danado do parafuso. Aliviado o engenheiro estendeu a mão para pegá-lo...

- Opa, amigo, obrig... – nem mesmo deu tempo de terminar a frase e Lunga, num movimento rápido, jogou o parafuso na caixa e deu uma bela mexida misturando tudo.

- Eu disse que estava aí. Agora PROCURE!

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Lunga vinha em sua variante quando um pneu estourou. Contrariado desceu do carro só para descobrir que estava sem o macaco. O jeito era perguntar pelas redondezas onde encontrar um macaco – ou voltar a Juazeiro caminhando.

Vendo um matuto sentado na beira da estrada Lunga foi até ele.
- Boa...
- Boa...
- Por acaso o compadre não teria um macaco para me emprestar?
- Oxente, tenho não, visse? Eu tenho mal e mal um burro velho...
- E o compadre não saberia quem tem?
- Pras ribas daquele morro mora o Joca. Ele tem uma Kombi e deve ter um macaco.
- Hum, vou até lá então. Muito lhe agradeço.
- Olhe, mas aviso logo ao Sr. que esse Joca é grosso feito os pés da burra. Ele é mais estourado que escapamento de rural. O Sr. cuidado com o que diz pra não levar uma patada desse homem.

Mal sabia o matuto que estava falando com Lunga. E o velho Lunga seguiu, embaixo de um sol de torar, caminhando até a casa de Joca, o cabra que, segundo o matuto, era grosso feito couro do pé do carteiro.

- Mas que esse corno não venha com graça pra cima de minha pessoa – falou sozinho Lunga enquanto caminhava.

- Se ele vier cheio de graça vai ver.
- Ele que pense em me negar esse macaco.
- Se cabra me olhar de lado sento uma tabocada na titela.
- Ele que pense em engasgar por meu lado.

Quanto mais caminhava mais Lunga remoia a grossura do Joca. Seguia resmungando sozinho, imaginando como abordar seu agora rival.

- Rapaz... sei não viu... isso não vai dar certo...
- Quero só ver... ah, mas ele que não brinque...
- Tudo isso por causa duma peste de um pneu furado.

E Lunga foi subindo o morro. A essa altura, já próximo da casa de Joca, seus olhos estava saltados e as veias do pescoço pareciam querer pular fora do couro.

Lunga chegou junto da porta, subiu as calças com força, chutou um pouco de terra e deu duas cacetas secas na porta. Joca então abriu a porta curioso e antes que pudesse sequer cumprimentar o inesperado visitante, Lunga emendou...

- Pegue seu macaco e enfie no meio do seu cu, seu porra!

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Lunga dormia ao lado da mulher quando ela o acordou de madrugada.

- Velho...
- Oi – disse sonolento
- Velho, ta me dando uma coisa...
- Então receba...
- Mas é uma coisa ruim!
- Então devolva... e me deixe dormir, peste!

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Já fazia um tempo que Lunga vinha tendo o mesmo sonho e já estava incomodado com isso. De tanto reclamar sugeriram a ele que fosse visitar uma advinha, que morava no centro de Juazeiro.
Lunga, munido do endereço, seguiu para a casa da tal advinha. Chegando lá, com sua conhecida delicadeza, bateu na porta com vontade.

- Quem é? – perguntou uma voz que vinha lá de dentro.
- Tu advinha porra nenhuma, sua broaca! – respondeu Lunga enquanto dava meia volta e ia embora.

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Saibam mais sobre a verdadeira história do velho Lunga AQUI.

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