No dia 13 de dezembro, um acidente envolvendo dois carros ocorreu por volta das 6h da manhã em um cruzamento da zona Sul do Recife. O acidente acarretou a morte de Aurinete do Santos e o internamento de seu marido, Wellington, e de sua filha de 6 anos, que teve que passar por uma cirurgia para reconstruir o nariz. O motor do pálio em que se encontravam no momento do acidente foi lançado a 50m do local do acidente. No outro carro, um Nissan Frontier ainda com placa verde, os três passageiros praticamente nada sofreram. Daquele dia em diante os jornais passaram a estampar manchetes falando como o Playboy assassino, Alisson Jerrar, de 21 anos, havia cometido um homicídio por estar dirigindo sua imensa caminhonete, voltando da balada bêbado a mais de 100km hora em uma zona residencial.
Trágico, não é mesmo? Não só pela morte de Aurinete mas pela forma como as coisas se desenrolaram. Rapidamente o assunto se tornou quase que obrigatório em qualquer roda de amigos. A discussão rapidamente assumiu características de uma pseudo-luta de classes. O playboy malvado, culpado de ter dinheiro, de vir de família rica e de ter uma Frontier e a pobre família classe C, de trabalhadores honestos, que foram envolvidos num acidente causado por um filhinho de papai um dia após comemorarem a formatura do ABC da filhinha.
Os blogs se encheram de comentários contra Alisson, a opinião pública caiu em cima, fazendo com que uma desprezível jogada do advogado da família, de transferi-lo para o hospital Português, em recuperação, para livrá-lo do COTEL (centro de triagem da policia) fosse por água a baixo, garantindo a Alisson sua estada sob os cuidados do Estado. As discussões de inflamaram. Justiça estaria sendo feita! Um riquinho na cadeia, pagando pelos infames crimes de toda sua classe social!
Depois de 5 dias preso Alisson foi solto. E sua soltura não foi resultado de nenhum artifício jurídico. Sua liberdade, ainda que provisória, é fruto dos resultados da investigação que, até o momento, provam que Welington – que agora responde por homicídio doloso no lugar de Alisson – atravessou o sinal vermelho ocasionando o acidente. E agora, quem é o bandido? Quem é o mocinho? Foram cinco dias entre criminosos da pior qualidade.
Poucos dias depois do acidente, quando os ânimos começaram a esfriar e a emoção deu lugar a razão, as informações começaram a vir a tona. Enquanto Alisson era descrito como um bom rapaz que errou ao beber demais e dirigir, comemorando o carro que havia ganho de presente no dia anterior, Welington, por sua vez, estava dirigindo sem carteira, já havia se envolvido em brigas no transito, levado diversas multas por excesso de velocidade e ultrapassagem de sinal vermelho. Ainda assim o grito era quase unânime. Qualquer um que defendesse não a Alisson mas sim a um maior cuidado na coleta de dados para se afirmar a culpa era acusado de ser defensor dos burgueses, um repressor das classes mais baixas, conivente com todo tipo de barbárie “cometida” pelos ricos contra os pobres.
Alisson é merece punição. Ele estava sob o efeito do álcool e dirigia, não segundo a pericia - na qual não confio, ao dobro da velocidade permitida. Ele merece punição, uma punição adequada aos seus erros, conforme previsto no código de trânsito e no código penal. Mas, convenhamos, não merecia o COTEL já que não se enquadrava como Homicida Culposo. A sociedade, ávida por algum tipo de argumento que fomente essa briga imbecil do pobre x rico, aos gritos cobrou a cabeça de Alisson. E quase a teve. A pericia que indica a culpa de Welintgton está sendo duramente criticada pelos pró-pobres, que inclusive insinuam como prova de culpa a contratação por parte da família Jerrar de um conhecido advogado criminalista.
A pericia me pareceu pouco isenta, confesso, quando alega que ambos os veículos vinham a 80km – o motor do Pálio foi lançado a 50m do local do acidente, Lembra? – mas não cabe a mim provar sua veracidade ou não.
Eu confesso que assumi Alisso comos culpado - e que POSSO ter errado. Estou farto realmente de ver filhinhos de papai bêbados cometerem todo tipo de atrocidades dentro e fora do transito. Mas sou suficientemente esclarecido para não levantar bandeira antes do tempo e para não cobrar de alguém dívidas que não são dela. Tenho amigos ricos que são verdadeiras moças de tão corretos e vários amigos de família mais simples que são verdadeiras almas sebosas. E a recíproca é verdadeira. Berço ou classe social não dita o caráter de ninguém. Os erros de um indivíduo não podem e não devem ser imputados a um grupo.
E, enquanto a briga rico x pobre esquenta e se alimenta de gritos de “Playboy Assassino” e “Pobres invejosos” perdemos o foco, que deveria estar voltado as leis de trânsito e suas aplicações. Na mesma noite do acidente um conhecido meu foi parado numa blitz, constatado que encontrava-se num estado “bebo bosta”, completamente embriagado, precisou de apenas R$ 50,00 para seguir guiando até em casa – segundo ele sem nunca passar da terceira marcha. Dessa forma fica claro que não precisa ser rico ou pobre pra se tornar um criminoso no trânsito, basta pagar R$ 50,00 ou aceitar R$ 50,00.
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