domingo, 11 de janeiro de 2009

Mentiras sinceras nos interessam?

Assisti a pouco a pre-air de “Lie to Me” um novo seriado que tem o excelente Tim Roth no papel de um cientista que de tanto estudar o comportamento e a linguagem corporal tornou-se um verdadeiro detector de mentiras humano. Na série ele utiliza seu conhecimento à serviço da polícia, FBI, departamento de justiça e afins. O piloto é legal e a série promete ser bem interessante.

ActorTim_Todd_51089559_600.preview Tim Roth como Cal Ligthman

Contudo o que me chamou mesmo atenção foi que na série o personagem de Roth, Cal Lightman, é, por seus conhecimentos, um excelente mentiroso e, o que me fez refletir, um homem que não pode ser enganado.

Em “Maior Abandonado” Cazuza cantava que “mentiras sinceras me interessam”. Mentiras sinceras. Pode até parecer paradoxal, um contrasenso, e aposto que muita gente nunca parou para pensar o que isso significa exatamente. Podemos viver sem mentiras? Mentiras sempre causam prejuízo? Seria bom sempre falarmos a verdade? Acho que Jim Carrey concordaria que é um tantinho complicado não poder mentir… e eu também.

Quem me conhece sabe que a mentira é parte importante de minha vida. Eu sou publicitário, mentirosos por profissão (a não ser que você seja do time de Dodley Moore, em Crazy People (1990), onde ele, publicitário, tem um colapso e resolve fazer propaganda apenas falando a verdade, e termina internado num hospício por causa disso), piadista e contador de causos.

Causos são nada mais nada menos que pequenas histórias transformadas em estórias pela inserção de exageros e detalhes ficcionais (também conhecidos como mentira). De tanto contar causos e inventar estórias ganhei o carinhoso apelido de carteirinha de estudante (dê cinquenta por cento de desconto em tudo que Eden contar!). O que seriam dos contadores de causos sem as mentiras? Alguém veria graça em uma história onde o coelho obviamente venceu a corrida contra a tartaruga?

Já imaginou você perceber sempre que sua mulher ou seu marido lhe contasse uma mentira inocente? Sim, porque existem mentiras inocentes. Como aquela onde você diz que gostou daquele corte de cabelo estranho de sua mulher apenas para não chatea-la ou onde ela diz a você que você é muito melhor de cama do que aquele ex-namorado. Ou quando aquele seu grande amigo pergunta o que você achou da atuação dele naquela peça e você, como muito esforço, assim como Leonard e Sheldon já o fizeram, precisa dizer que não vê a hora de presenciá-lo no palco novamente. São essas as menitras sinceras.

Voltando a ao episódio de “Lie to Me”, existe um personagem que alegadamente só fala a verdade, segundo ele um sincero radical. Em um determinado momento ele conhece sua nova colega de trabalho e, na bucha, diz “Eu dormiria com você!”. Quando ela toma conhecimento de seu estilo de vida devolve com um “Como você é de cama?” e ele se vê obrigado a responder com um “Mediano”. Perdeu uma excelente oportunidade de dizer “prepare o Caladril para as queimaduras de fricção e o vick para não sentir o cheiro de pentelho queimado”.

Tá certo que nem sempre mentir é a melhor opção. Veja o caso de marido que chegando em casa da putaria braba, as 5h da manhã, coloca um giz atrás da orelha e entra em casa fazendo o maior barulho. A mulher, que o esperava com a vassoura em punho, aos gritos pergunta onde ele estava. “Na putaria, na gandaia, na farra. Cachimbrema! Cachaça, chifre e problema. Era puta pra todo lado e cana para todo canto. Porque, alguma coisa com isso?” – era a mais absoluta verdade. “Mentiroso de merda! você estava era jogando bilhar com aqueles pinguços dos seus amigos! Nem tirou o giz de trás da orelha!” respondeu a chifruda se achando a própria Sherlock Holmes.

É claro que a escolha entre mentir e falar a verdade sempre vai depender da pessoa com quem se fala e do poder dela que ela exerce sobre a sua pessoa. “Claro chefinho, essa sua idéia é o máximo”, “Não, amor, você não está nem um pouco gordinha”, “Eu jurava que era uma mulher!”, “Isso nunca me aconteceu antes”, “Eu não copio posts!”… e assim caminha a humanidade.

Jamais desejaria a ninguém o dom de detectar a verdade, deve ser uma maldição você não poder ser enganado. As vezes precisamos disso, precisamos ouvir uma pequena mentira, as vezes não queremos saber a verdade – por mais que finjamos que queremos. Precisamos ouvir elogios que não merecemos, precisamos ouvir que não estamos tão feios, nem carecas. As vezes precisamos ouvir que perdemos aquela vaga porque o vencedor tinha um “peixe” e não porque era melhor que você. As vezes precisamos ouvir que escrevemos bem. Nossa sanidade e a sociedade precisam de mentiras para seguir em frente.

E você, mentiras sinceras lhe interessam?

Um comentário:

Marcel disse...

Melhor post ever por aqui!