Abre as pernas Santinha

Eu tenho uma confissão a fazer. Na verdade duas. Nem sei qual delas me envergonha mais. A primeira é que sou torcedor do Santa Cruz, sou um tricolor. A segunda é que sou um péssimo torcedor. Mas calma. Não ache que tenho vergonha de fazer parte de uma das maiores torcidas do Brasil. Não é isso. O que me envergonha é ser torcedor de um time sob a batuta de uma dois maiores cara-de-pau que a cartolagem já viu. Me envergonha estar descendo para a recém criada 4ª divisão. Não há como ser diferente. Tenho certeza de que todo tricolor, seja ele doente ou não, se envergonha de não ter derrubado Edinho antes. Agora é tarde. O mal está feito. Edinho enterrou o Santinha e ainda cagou no seu túmulo.

Sou um torcedor bunda, daqueles que só vão a estádio uma vez na vida e outra na morte. Daquele que não tem uma camisa do time e que desconhece completamente a escalação. É clássica a história de que quando cheguei no trabalho vi, de fundo de tela, a imagem de um negão que era a cara de Chico César. “Quem porra botou essa foto aqui, hein?” reclamei enquanto a turma morria de rir do fato de eu desconhecer completamente Carlinhos Bala, o herói da subida tricolor para a primeira divisão.

Mas nem tudo é só vergonha. Parte de mim tem orgulho. Apesar dos pesarem sou tricolor e não abaixo a cabeça de forma alguma. Onde estiver, se perguntado, confirmo meu amor a um time que quase desconheço. Agora é hora de levantar a cabeça. Ë piegas mas é fato de que uma vez no fundo do posso só nos resta subir. Grandes oportunidades resultam de grandes provações. O Japão, destruído pela segunda guerra, tornou-se a potência que é. Essa é a idéia, reconstruir. União, vontade e amor a um time que já deu tanta alegria e orgulho.

Não baixo minha cabeça. Sei que ainda vou poder azucrinar burros-negros e barbies no futuro. Sei que no meu peito ainda cabem estrelas. Estrelas essas que certamente virão.

Como publicitário vejo no Santa Cruz uma grande oportunidade de marketing. A empresa que abraçar o time agora, que investir, que acreditar, será reconhecida, em um breve futuro, como uma empresa que participou da recuperação de um mito. Uma empresa que ajudou o Santa a transpor um momento difícil. Essa empresa, seja ela qual for, poderá ter certeza que a torcida tricolor, uma das maiores do Brasil, não vai esquecer nunca.

Eu estou com o Santinha para o que der e vier apesar de saber que o que aconteceu é culpa minha. Culpa de cada torcedor que deixou as coisas chegarem onde chegaram sem se revoltar. Agora, infelizmente, só posso pedir ao time que abra as pernas, que dê ao Salgueiro a alegria que não tivemos. E torcer, como sempre torci, mesmo que do meu jeito, para que as coisas sejam diferentes daqui em diante.