quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O Brasil é um país de merda (ou a epopéia para comprar o ingresso para o show de Madonna)

Primeiro vou esclarecer uma coisa: eu não vou para o show da veia. Pra mim, podem me crucificar, homem que encara um rojão pra ir pro show da Madonna recebe alvará pra liberar o boga. A documentação já tem agora libera se quiser.

Quando Sy e Chris souberam do show da veia elas deram gritos histéricos de alegria. Eu já estava prevendo a nabada. Eu nem vou pro show mas vou levar no toba do mesmo jeito. Neste pais de merda em que vivemos, digo isso como todo ufanismo e patriotismo de meu coração, não podia acontecer diferente do que eu esperava.

As vendas para os ingressos no show do Rio, primeira opção das duas, deu em água. Compra pelo telefone era uma piada e comprar pelo site da tickets for fun era um desafio hercúleo. IMPOSSIVEL. Após uma madrugada insone, sem sucesso na compra – como outros milhares de brasileiros, Chris e Sy me pediram ajuda. Eu, Chapolim Colorado, tive que fazer a única coisa que podia: tomar na bunda pela Madonna (sem gostar de Madonna nem de tomar na bunda).

O desafio não seria tão grande se não fosse a pouca vergonha, a falta de caráter e de lisura de todos os envolvidos no processo de venda dos ingressos. Ciente das filas quilométricas convenci, oferecendo uma grana, claro, o meu primo a encarar a fila e tentar efetuar a compra dos ingressos. Para tanto ele chegou a bilheteria do Ibirapuera as 17hs de ontem aguardando a abertura das bilheterias as 12h de hoje.

Chegando lá ele contou 70 pessoas em sua frente. Safo como é, não nega o sangue, resolveu tirar algumas dúvidas. Vamos as surpresas:

a) As bilheterias não aceitariam cartões de débito, informação completamente diferente da que era dada por telefone até então. Lá vai o Israel ligar para um amigo para que ele pudesse sacar o dinheiro enquanto alguém ficava na fila. Reclamar, óbvio, não resolveu nada.

b) O evento se reservava o direito de cobrar uma taxa adicional de conveniência de 20% para vendas em uma das bilheterias oficiais do evento. Como assim? Conveniência para quem? Para ele que teve que dormir na fila? A taxa é duplamente ilegal. Não só por figurar claramente como ágio mas também por se relacionar com uma porcentagem do valor do ingresso. Quer dizer que os custos da empresa para emitir um ingresso variam com o preço do ingresso? Não. Mais uma vez nossas autoridades não se manifestaram a respeito. Os fãs da veia estavam abandonados a própria sorte.

Fui comunicado dos problemas e avisei as meninas que elas teriam que desembolsar cada uma mais R$ 120,00 por ingresso. Era o jeito. Isso ou nada. Confiar na justiça que não iria dar.

Tudo parecia certo até que, quando faltava pouco mais de meia hora para a abertura das bilheterias foi chegando, de todos os lados, um verdadeiro enxame de idosos. Parecia a convenção nacional dos jogadores do bingo. O encontro anual dos usuários de perereca. Mas, ao invés de bondosas vovozinhas, as bilheterias foram invadidas por idosos que atuam como compradores de cambistas. Centenas deles, acompanhados de deficientes físicos, passaram a frente de todos os fãs que dormiram na fila, comprando seis ingressos cada (segundo a organização seria o número máximo de ingressos vendidos por CPF).

Se antes eu tinha dado graças a Deus pela venda no site não ter funcionado mais uma vez (o que garantiria que os ingressos não tivessem esgotado durante a noite) agora batia um desespero.

Descaradamente os idosos iam saindo da fila e entregando os ingressos aos cambistas que os aguardavam mais afastados. Cambistas esses que rapidamente se dirigem a fila oferecendo ingressos com até 50% de ágio e fazendo pressão psicológica, alertando para os perigos dos fãs terem dormindo na fila e ter ficado sem ingresso. Três horas após a abertura das bilheterias Israel ainda não comprou os ingressos. A sua frente o mar de idosos e deficientes parece ser intransponível. De longe, aqui de Recife, imagino a raiva que toma conta dele, a triste sensação de estar sendo subjugado pela malicia dos cambistas que, aproveitando-se de um direto dos idosos, corrompe-os e conseguem burlar a lei. Percebo então o porque de vários fãs simplesmente terem optado por assistir o show que será realizado na Argentina. Antes dividir seu espaço com os “ermanos” que encarar toda essa safadeza.

É, Madonna, bem vinda ao Brasil, a eterna terra do jeitinho.

Ah, Israel ainda está na fila, bem próximo, é verdade, mas agora as bilheterias estão lotadas de gestantes e, pasmem, gente que está alugando crianças de colo para passar na frente.

UPDATE:
Um cambista foi preso depois de quase ser espacando na fila. Sua mochila, apreendida, estava cheia de ingressos VIPs, oferecidos pelo bandido pela bagatela de R$ 1.500,00 a unidade.

UPDATE 2:
Ingressos comprados. Não os VIP, como elas queriam. Vão ter que se contentar com pista. Os VIPs, que não tiveram seu número total para venda divulgados, acabaram quando a quadrgésima pessoa da fila (tirando os idosos, aleijões e grávidas filhos de uma puta) chegou a bilheteria. Se estivessemos num pais com um pingo de vergonha essa venda seria auditada e a multa faria a Ticket For Fun ter um prejuizo histórico, servindo como lição para os próximos espertinhos. Se. Eu aposto que não dê em absolutamente nada.

UPDATE 3:
Até certo ponto eu concordo com o Hipocondríaco. Até certo ponto. Eu não vou. Deixando todo o frangolismo de lado eu simplesmente não gosto da veia. Mas entendo quem gosta, entendo quem está disposto a pagar R$ 720,00 pra poder cheirar o xibiu dela, lá na frente. Eu pagaria R$ 10.000,00 por um ingresso para um show dos Beatles (não venham me sugerir uma mesa branca), pagaria R$ 5.000,00 para ver um show do Dire, como pagaria caro pra assistir Dave Mathews ou U2. acho que o problema não é financeiro. Gosto é como cu, cada um tem o seu. Você gosta? Gosta mesmo? Então você paga. Se fode todinho mas paga. O problema é se submeter a essa safadeza, pilantragem e palhaçada que foi a venda de ingressos pela Ticket for Fun. É ficar horas na fila apenas para ver os cambistas ameaçarem por fogo nas bilheterias e, por isso, passarem na frente sem que a policia intervenha (não sem antes ter destruido barracas, ateado fogo em guarda-sois e ameaçado quem estava na fila). É pagar uma taxa de conveniência de 20% depois de ter enfrentado 22 horas de fila sob chuva, sereno e sol. Sy e Chris vã0, se Deus quiser (até para que toda essa foda tenha valido a pena) e espero que curtam demais. E que depois do show a veia se irrite com qualquer merda e processe a Ticket for Fun.

2 comentários:

Marcel disse...

Eu pagaria 1000 reais pra um show de uma banda que adoro. Mas não nessas condições. A questão não é o preço, é o tratamento que é dado ao brasileiro como consumidor. Somos tratados como lixo porque somos um povo lixo e gostamos de tomar chute na bunda. A gente se fode hoje mas se aproveita amanhã, é a lei do menor esforço. É muito melhor ir para o show de Buenos Aires. E foda-se o Brasil, país de merda.

Eden Wiedemann disse...

Porra, Marcel, apelou. Ficar cercado de "ermanos" só em caso de vida ou morte!