sexta-feira, 7 de novembro de 2008

E aí, Niger?!


Eu estava ali, sentado ao volante do Clio, esperando o cara sair do aeroporto. Sei lá a quanto tempo estava estacionado, estava pouco me lixando para os guardas de transito que passavam para cima e pra baixo metendo a caneta. Fodam-se. Eu estava ali esperando uma celebridade. Estava ali esperando Lewis Hamilton.

Opa, lá vem o cara. Oxe, de macacão de corrida? De bonezinho e tudo mais? Vai pra puta que pariu, que patrocinador exigente da porra. Eu dou algumas buzinadas e aceno para o negão – sei não, pra mim o cara não entrava no sistema de cotas, mas vá lá, se dizer negão agora é moda mesmo. Ele abriu a porta e acenou.

- Alow, Alessandrow – puta tentativa tosca de falar português.
- E aí, negão – respondi animado.
- Negow?
- É, negão, tá ligado? Niger, Brow!!!

Quando pensei que ele ia mandar eu me fuder o cara deu uma risada e entrou no carro. Bom, estranho pra cacete mas dali em diante só falamos em inglês. Estranho porquê eu não falo inglês. O que importa é que nos entendemos.

- Posso ir pilotando?
- Você quer ir dirigindo meu Clio?
- Não.
- Ué, mas você pediu agora.
- Quero pilotar!

Eu deixei. Cacete, eu deixei. O cara sentou o pé pra dentro. Já desceu o viaduto a mais de 130km, entrando na Capitão Zuzinha a toda, sinal era bóia. O cabra mandou bem. Quando chegou ali na altura do Shopping Recife, ainda na Domingos Ferreira ele parou num sinal. Um pivete chegou junto e pediu um trocado. Pô, fiquei com vergonha de traduzir e fiz que nem vi. Mas Hamilton, o Níger boa praça, em sua inocência e boa fé, assinou um autografo e entregou pro guri. O sinal abriu e ele arrancou enquanto o guri gritava “Frentista de merda, filho de uma puta, vou usar esse papel pra limpar o cu!”. Claro que, questionado, traduzi para ele como “Obrigado campeão mundial de formula um!”. Feliz o negão correu ainda mais.

Chegamos em nosso destino. Sério, eu estava absurdamente avoado, as coisas não me pareciam claras. Para que eu havia levado Hamilton ali? “ E aí, cadê a tal Erika?” A pergunta me fez lembrar o motivo de estarmos ali e revelou todo non sense da situação. Eu tinha levado o Hamilton ali pra ele comer a Erika, a periguete de Luciano, um bom amigo. Porra, além de não falar inglês, ser sem noção ainda sou fura-olho. Eu sou um MERDA. Bom, mas sou um merda com amigos importantes.

- Ei, niger, é ali naquela porta a esquerda... mas agiliza que Luciano está chegando.
- Burti?
- Não, corno mesmo. Vai logo.

O cabra já foi tirando o macacão enquanto caminhava para a sala. A imagem do inferno. Cuequinha McLaren e sem tirar o boné nem a meia. Juro que vi na costas dele uma tatuagem mal coberto onde tinha “I Love Ferrari” mas, como diria Copélia, preferi não comentar.

O negão foi lá, colocar uma peruca de boi no Luciano e eu camperando a chegada do coitado. Chamei o Hamilton pelo rádio.

- Kzzzzzzhhhrrrrr (estática)... Box para Niger.. ops... Hamilton.... Kzzzzzzhhhrrrrr...
- Ham.. Kzzzzzzhhhrrrrr... ton na escuta...
- E aí... Kzzzzzzhhhrrrrr ... já saiu do túnel? O segundo ... Kzzzzzzhhhrrrrr... está chegando mais junto. – confesso que o trocadilho ridículo me pareceu engraçado na hora.
- Já entrei e saí do túnel ... Kzzzzzzhhhrrrrr ... várias vezes!

Porra, o negão era ligeiro fora das pistas também, devia ter batido o recorde da pista.

- Agiliza... Kzzzzzzhhhrrrrr ... porra.
- Calma, falta o... Kzzzzzzhhhrrrrr... cu.

Quando olho para o lado vejo o Luciano chegando. Fudeu. Quer dizer, fodeu mais ou não fudeu... ah, sei lá.

- Negão... Kzzzzzzhhhrrrrr... o segundo lugar está chegando.
- O massa?
- Não, o... Kzzzzzzhhhrrrrr... corno!
- Fuck! – não, não foi o Hamilton que gritou, foi a Erika, pelo jeito o negão estava mandando ver mais uma vez.

Quando dei por mim Luciano já estava em cima da porta, já pra pegar a merda toda. Desesperado corri para tentar impedir e, PIMBA, acordei.

Cacete, sonho estranho da porra.

Sonho de Alessandro, contado pelo mesmo entre uma cerveja e outra.

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