segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O prazer de se arriscar


É da natureza do homem arriscar. É de nossa natureza apostar, no risco, acreditando sempre na hipótese da surpresa agradável. Vou exemplificar com um acontecimento recente no qual esse que vos escreve mais uma vez tomou no meio das pregas.

Sábado, umas 9h da manhã, precisei sacar R$ 60,00. Resolvi fazer isso no Bompreço. Meu primeiro erro. Depois de esperar 40 minutos na fila – lá os idosos de Boa Viagem jogam dominó na fila enquanto esperam sua vez de perder horas checando os extratos na frente do caixa eletrônico – saio com dindim no bolso.

A fome, que já estava cavalar, me lembra com um ronco que mais pareceu um sonoro arroto, quem manda em minha pessoa. Aí vem minha teoria. No caminho de casa tem uma padaria onde como com freqüência. Apesar da comida não ser das melhores eu já a conheço, já sei o que me espera. Mas qual a graça nisso?

Olho para o lado e vejo um quiosque de salgados, daquele que vende de tudo um pouco. Na placa lemos “Lazanha, arrumadinho, escondidinho de charque, extrato de clorofila, acarajé, cachorro-quente, etc..”. Pela placa eu devia ter identificado o risco: eu estava diante do PATO. Anda, nada e voa mas não faz nenhum dos três com excelência. Mas aí vem a história do risco... eu logo imaginei que dali poderia vir uma surpresa! Vai que a mulher realmente serve uma boa comida! A padaria ia ser o de sempre... ali não, haveria emoção, risco, expectativa.

Claro que, como bom otimista que sou, não observei que a surpresa pode variar de 1/1, ou seja, pode ser boa ou má. É o verdadeiro jogo de azar alimentar. Escolho uma empada. Vai que me surpreendo e não é feita de falso camarão. Vai que me surpreendo e não vai me fazer cagar as tripas no outro dia. Vai que me surpreendo...

Engraçado é que em momento nenhum eu pensei o contrário. Como a maioria de nós, humanos, quando apostamos, esperamos sempre pelo melhor. Tudo ali indica o contrário, tudo. Mas ainda assim pensamos que vamos nos dar bem.

A empada foi servida por uma atendente sorridente, com aproximadamente 130kg e 1,60m. Ela vinha remando dentro do quiosque apertado, segurando a empada em um pratinho e tentando não fazer tudo mais desmontar. Quando avisei que ia levar, que a empada era pra viagem, ela sacou um saquinho e num rápido gesto TENTOU acomodar a empada dentro dele. Tentou. A empada, prevendo seu destino, pulou fora do saquinho e foi capturada em pleno ar pela atendente. Com seus dedos gordos ela empurrou a empada de volta pro saco. É, amigos, com os dedos. Nessa hora minha fome até se acalmou. Quando ela percebeu que eu, por livre e espontânea pressão, comeria mesmo aquela disgrama, ela resolveu ficar quietinha. Estiquei a mão e lhe entreguei o dinheiro que ela prontamente recebeu com os mesmos dedos que haviam empurrado minha empada para o saquinho. Com minha razão dominada pela fome o otimismo falou mais alto. “Ah, deve ter sido o primeiro dinheiro que ela recebeu hoje... vai que as mãos nem estavam tão sujas assim” pensei. Na hora não pensei na vinda de metrô, no ônibus lotado, na mão da turma da favela que ela apertou enquanto vinha trabalhar.

Eu comi a empada. Confesso. EU COMI A EMPADA. Surpresa, ela era realmente de camarão! E era boa sim. Quer dizer que a aposta deu certo? Quase. A empada se vingou. Aliada as probabilidades me deu uma caganeira explosiva em aerosol. Sabe aquela que faz FRUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU e quando você olha todas as paredes do vaso estão meladas e a água está intacta? Pois é. O fiofó fez bico, até pensar ardia. Tive um domingo de flor, no vaso. Bendito Wireless que me permitiu ver minhas séries sentando no colo de bocão por todo o dia. Da próxima vez vou ao McDonalds, não há escolha mais convencional que essa.

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