quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ê, bons tempos, hein?


O ano era 1991 e eu me encontrava com 16 aninhos de idade. Nesse ano meu lado nerd hibernou e eu havia me tornado um surfista. Isso, podem rir. Riam. Havia tentado aprender a surfar com prancha, ensinado por meu pai em Gaibú, mas não teve jeito. Carregar aquela prancha até a praia, ou pegar um ónibus com ela, era um martírio. Fora que meus companheiros de surf tinham manias estranhas como levar latas de leite moça (não, eu nem desconfiava que havia uma coisa chamada larica) para praia e abri-las na quilha de sua prancha com uma pancada forte e seca que acabava por deixar sua prancha "quilheta". Então comprei um BZ diamond, na época era o que havia de melhor, e caí no mar. Continuava devorando livros e gibis, continuava viciado em fliperama, continuava cinéfilo. Mas era um zero a esquerda quando se tratava de música. O que era estranho pois como nerd devia entender de música. Como surfista era um pecado não gostar de reggae, Man at Work e tantas bandas de surf music. Eu apenas não gostava de música. Mas algo mudou...

Minha chegava de uma viagem de Brasília. Conhecida por sua, digamos, capacidade de economizar dinheiro (um dom que eu gostaria muito de possuir) ela nunca foi de nos trazer presentes... eita, deixa eu achar uma forma delicada de dizer... presentes que nós, como crianças esperassemos alegremente. Pronto. Esperava ansioso por sua chegada mas não pensava no presente. Devia ser uma roupa fora de moda e em um número duas vezes maior, um porta-retratos ou algo do género. Quando ela chegou mal dei atenção ao pequeno embrulho, mais preocupado em enchê-la de beijos e saber como estavam as coisas na capital do pais. Acalmados os ânimos fui checar o presente. É, daquela vez ela havia me pego de surpresa.

Dentro da embalagem uma fita pirata de música (calma, não a crucifiquem, ela nem sabia que isso existia, apenas comprou uma fita genérica de música). Confesso que continuei sem muito animo apesar de surpreso. Música não era minha praia. Deixei a fita em cima da mesinha e fui jantar. Nem lembrava mais da fita até que, antes de dormir, fui abordado por aquela pergunta que todos os presentados temem: "Não gostou do presente?". Mil desculpas esfarrapadas depois vi que só me restava uma opção: ouvir a fita.

Eram 22h e eu estava só na imensa sala de estar. Coloquei a fita no toca-fitas, dei play e deitei no sofá enquanto lia o encarte com as músicas. A primeira era Faroeste Caboclo. Nove minutos de algo que me parecia uma história cantada. "Hum, história interessante... e não tem refrão...". Gostei mas ainda não foi ali que fui fisgado. Foi logo depois. A segunda faixa era "Tendo a lua", do, pra mim quase desconhecido, Paralamas do Sucesso - , o cara tinha tirado os óculos! Ali tudo começou a mudar. Ali eu comecei a gostar de música. Ali passei a concordar que o céu de Icáro tem mais poesia que o de Galileu.



E você, que música mudou sua vida?

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