quinta-feira, 17 de julho de 2008
Falando daquilo que gosto
Quando pensei em escrever a primeira coluna sobre cinema encontrei um impasse. Em uma época de Wall-E, Hancock, Kung-fu Panda e Batman - cavaleiro da trevas, quem seria o merecedor da primeira resenha? E que tal revisitar os antigos clássicos? Mas a solução veio de forma tão simples quanto o dilema. Resolvi escrever sobre um filme que não é lançamento mas também não é tão antigo, um filme que eu tenha gostado muito, que tenha me marcado. Um filme que eu quero que vocês assistam. A escolha foi fácil, fácil demais.
ACROSS THE UNIVERSE ****
Across the Universe
EUA, 2007 - 131 min
Musical
Direção: Julie Taymor
Roteiro: Dick Clement e Ian La Frenais
Elenco: Evan Rachel Wood, Jim Sturgess, Joe Anderson, Dana Fuchs, Martin Luther, T.V. Carpio
Não esperem uma resenha isenta, é impossível. Eu sou fã confesso dos Beatles, sempre fui, sempre serei. Mas não acreditem que falaria bem do filme apenas por se tratar de um fã, não é isso. Digamos que ele ganharia uma estrela de brinde. Mas além de ser realmente muito bom - já começo entregando a resenha toda - ele é especial para mim, por isso a escolha.
Quando pensava nos outros milhares de fãs espalhados pelo mundo acreditava ser uma insanidade ninguém investir num musical com as músicas dos quatro rapazes de Liverpool. Após os filmes rodados durante a existência da banda (A Hard Day's Night, Help!, Magical Mistery Tour, Yellow Submarine e Let It Be) nada mais foi visto. Mas a espera valeu a pena, Across the Universe preenche esta lacuna de forma magistral.
O filme, que se passa nos anos 60, retrata uma história de amor entre um rapaz de Liverpool chamado Jude (Jim Sturgess) e uma jovem americana de nome Lucy (Evan Rachel Wood). Apesar da simplicidade do tema, do objetivo de mostrar o romance dos dois, o filme não se furta a fazer uma representação bem fiel daquela época. Colégio, faculdades, hippies, protesto, Vietnã, psicodelia. Está tudo ali. Jude sai de Liverpool em busca de saber mais sobre si e acaba encontrando-se com Max (Joe Anderson), irmão de Lucy. Max, anárquico e hedonista, convence Jude a se mudarem para Nova Iorque onde tentarão a vida na cidade "onde tudo acontece". A passagem dos três, e do resto dos personagens principais que vão se juntando ao grupo no decorrer da história, pelos momentos importantes dos anos 60 são marcados por canções dos Fab Four.
São 33 músicas dos Beatles cantadas pelo elenco, algumas em grupo, outras solo, todas mantendo a letra original. Os novos arranjos são excelentes e transmitem, com maestria, o sentimento do personagem no momento da canção. Tenho a audácia de dizer que alguns deles estão melhores que os originais. A escolha do elenco foi primorosa, todos excelentes cantores (Jim me surpreendeu) e atores competentes. A fotografia faz bem seu papel, deixando transparecer bem o momento de cada ator durante a cena. A produção altera momento de total lucidez cênica com devaneios psicodélicos, todos em seu devido lugar. O filme conta ainda com participações especiais de Bono (como hippie Dr. Robert cantando "I am The Walrus"), Joe Cocker (triplo papel de um cafetão, mendigo e hippie emprestando sua voz rouca para "Come Together"), Salma Hayek (dançando "Happiness is a Warm Gun" vestida de enfermeira) e do comediante Eddie Izzard (o apresentador do circo em "Being For the Benefit of Mr. Kite!")
O filme é indicado para todos aqueles que são fãs de musicais, dos Beatles ou que simplesmente querem um experiência cinematográfica diferente. A trilha sonora é um must have, daqueles que nunca devem sair de seu Ipod (sempre haverá um momento especial para uma delas). Um dica: assistam como eu assisti, com uma pessoa especial ao seu lado.
Para dar um gostinho ai vão alguns trechos do filme, com algumas das minhas versões preferidas.
Curiosidades
Os personagens foram batizados com nomes tirados de músicas dos Beatles, assim como o título original do filme.
Salma Hayek, que já trabalhou com a diretora Julie Taymor em Frida (2002), pediu para participar do filme, mesmo que fosse em um papel pequeno.
O personagem JoJo é uma referência a Jimi Hendrix, enquanto que Sadie é uma referência a Janis Joplin.
90% das canções foram gravadas ao vivo nos sets de filmagens, sem qualquer dublagem feita em estúdio durante a pós-produção.
A cena em que Evan Rachel Wood canta "If I Fell" foi gravada logo em sua 1ª tentativa.
Versões preliminares do roteiro previam a presença de um carcereiro chamado Sgt. Pepper, que seria seguido pela Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band. O personagem foi descartado na versão final do roteiro.
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