sexta-feira, 18 de julho de 2008

O homem e o pum

Poético o titulo, não? Não parece um titulo de João Ubaldo Ribeiro? Peço perdão aqueles que acham constrangedor, de pouca educação ou até mesmo nojento falar de pum (e, acredite, só estou chamando de pum em atenção às pessoas mais delicadas), mas me sinto compelido a discutir essa que uma das relações mais intensas da humanidade: a relação entre um homem e seu peido (pronto, falei).

Não é a toa que cunharam a máxima que diz que criança é como peido, só agüenta quem fez. Acredite que isso não partiu do fato dos pais TEREM de agüentar seu filhos (eu sou pai e falo de cátedra). Não, não é assim tão simples. No meu entender quem cunhou frase tão celebre teve um insigth ao perceber que o homem sempre agüenta o próprio peido. E mais, ele o faz com um orgulho quase cívico. Oras, se você agüenta cheirar os próprios gases,e se só você agüenta e ninguém mais, deve ter parecido uma relação muito próxima com crianças birrentas. A lógica é simples: quem fez agüenta. Mas eu me aprofundaria ainda mais no assunto.

Como já disse antes o homem não só agüenta o próprio peido como se orgulha dele. Quando alguem sente aquele borbulhar, aquele queimor nas beiras, aquele arrepio na nuca. Todo o aviso, a preparação. Vem bomba por aí. Ai, droga, aqui não, não tem ninguém por perto. Já suando, vai a sala ao lado, ninguém. Na sala do cafezinho. Todos saíram. Mas já? São 18h20. Os elevadores estarão cheios! Na ponta do pé, num balé suplicante entre um furico bicudo e uma mente maliciosa, vai seguindo. Chama o elevador. Quem observasse de longe agora pensaria ver uma dança. Um leve molejo de cintura. O elevador chega. Lotado. Opa, cabe mais um? Condenados, todos eles.

Ah, o elevador lotado. Agora. Não. Mais dois ou três andares. Além de disfarçar pode surgir outra vitima. Seu Ariovaldo, o coroa chato e narigudo entra sétimo andar. Narigudo. Segura o riso.

A pressão no retentor já está insuportável. Você relaxa um pouquinho. Analisa pra ver se vai ser mesmo do silencioso (de outra forma corre o risco de ser linchado). Hum, perfeito. Agora é só propiciar o perfeito controle do escapamento. Liberar mas não muito pra não apitar. Devagar e sempre. As vezes, num gesto irresponsável, colocamos mais força no final. Só pra ouvir aquele fuimmmmmmmmmmmmmmm de levinho, imperceptível para os outros mas que para o autor da façanha é quase como ouvir um filho falar papai pela primeira vez. Agora é fazer cara de parede e analisar as reações.

Alguém tosse. Uma senhora torce o nariz. Todos se viram e olham para o gordinho no canto (vítima preferida logo a frente da mulher feia e da criança). O gordinho faz a única coisa que podia, cara de quem não ta com a mão amarela, quase se desculpa por um peido que ele não deu (mas que queria ter dado). E o autor lá, cheio de orgulho, esperando o elevador chegar o térreo, todos se atropelem pra sair e ele poder subir de volta pro trabalho.

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