segunda-feira, 21 de julho de 2008

O mais trash das trashs 80


Como os leitores assíduos já sabem eu despertei um pouco tarde para música. Acredito que essa minha indiferença ao universo musical tenha sido um bloqueio causado pelas intermináveis aulas de piano, que fui forçado a fazer quando criança. Isso ficou mais evidente quando, ao mergulhar no mundo das festas Trash 80s, descobri que sabia a letras de todas as músicas que tocavam. TODAS. Ou seja, os anos 80 estavam lá, escondidos em algum discreto lugar em minha mente, com todo seu universo de figuras bizarras e merecidamente chamados de personalidades trash.

Freqüentar as festas trashs se tornou um hábito. Da primeira realizada, que contava apenas com “tocadores de CDs” e bombou com 750 pessoas apertadas em um local claramente desprovido de capacidade para receber tão grandioso evento, até hoje só perdi uma festa. Me lembro claramente de ter ido a primeira trash sem ter a menor noção do que se tratava, sem esperar nada demais. Ao amanhecer do dia seguinte estava estafado, dolorido e feliz. Havia pulado e dançado ao som de Ritchie, Leo Jaime, Sérgio Malando, Dominó e tantos outros. Havia conhecido Luiz Harley e cantando a altos brados seu maior sucesso: cães e rães , o qual os apresento, orgulhosamente, abaixo:

Saí pra procurar meu amor
E logo a chuva começou a cair
A luz do poste se apagou
Que horror, que horror
Fiquei somente a escutar: Cães e rães (4x)

E quando a chuva parou
E o guarda noturno apitou
Amanhece, o cachorro continua a latir
E a rã continua no cri-cri
E eu não vi o meu amor, que horror
Fique somente a escutar: Cães e rães (4x)

Nesta noite aprendi duas coisas: que adoro trash 80 e que mulheres bêbadas choram ao ouvir Balão Mágico e Xuxa.

Desde então as festas, entre boas e ruins, proporcionaram momentos marcantes. Momentos como aquele onde, Rosana – a esticada interpréte de O amor e o poder, insistia em não sair do palco e continuar cantando suas novas “músicas”. Ela perguntava ao público “ vocês querem ouvir mais uma?” e em seguida ignorava o coro que gritava “Não!”. Acho que ela nunca entendeu o conceito de festa Trash. Em outra festa Kátia (que, de forma nem um pouco politicamente correta, sempre foi chamada de Kátia Cega) que ficou conhecida pela música “Qualquer Jeito” (com seu meloso refrão onde gritava “não está sendo fácil, não está sendo fácil...” ) cantava animadamente em uma festa Trash. Alheios ao profissionalismo da cantora se ouvia que todo seu empenho no palco se deveria ao fato que ela, erroneamente, achava estar cantando no Chevrolet Hall, a maior casa de show de Recife. Que maldade. Mas se engana quem pensa que parou por aí. Lembro que nessa festa achei o máximo ver, lá do fundão, as pessoas se apertando em frente ao palco, segurando cartazes enquanto Kátia cantava. Poxa, ela tem fãs aqui, pensei. Cartazes que, como descobri em seguida, estavam todos em branco. Que venham as próximas festas trash 80.

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