sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Paulinho, o Mun-Rá do Recife
Paulinho é Mun-Rá, o ser de vida eterna. Antes da transformação. É igual, sério. Se colocar um pano em volta da cabeça, ou uma toalha, é o próprio. Como nunca resolveram fazer um filme live-action dos Thundercats essa feiúra dele nunca teve utilidade. Ele inclusive tentou matar um dos colegas da Casa do Estudante, onde ele morava, com uma faca de cozinha, quando descobriu que era ele que vinha telefonando pra lá e pedindo pra falar com Mun-Rá. Coitado. Descia três andares de escada pra atender o orelhão só pra ouvir alguém gritar “Antigos espíritos do mal....................”. Até eu perderia a esportiva.
O engraçado é que ele sempre se achou um gato. Galã mesmo. Trabalhava conosco, era boy da agência, e era sempre cheio de marra. Claro que sempre que podíamos tirávamos um sarro da cara dele mas era até sem graça, o cara era tão inocente que não percebia que era sacanagem. Em uma das vezes levamos ele pra festa do mídia, no Chevrolet Hall. Festa da Globo, muita gente, o dia estava especialmente quente, e Paulinho lá, de casaco de couro, camisa de gola role e óculos escuros (escolhidos por Serginho, um dos principais algozes). Numa mão o cigarro Derby, na outra o Walker fornecido pela Globo. Paulo Ricardo, gritavam as meninas orientadas por nós. E ele, só sorrisos, nem percebia que era tiração de onda. Perdia a graça.
Mas eu sou brasileiro e não desisto nunca. Sacanear Paulinho tinha se tornado um hobby – é, eu sou mal. Um belo dia estávamos num bar, depois do expediente.
- Rapaz, vocês ficam chamando Paulinho de feio, de Mun-Rá; sem ofensas Paulinho; e outras coisas mas o cara é garanhão. – Falei sério chamando atenção de todos na mesa.
Paulinho fez cara de quem ia reclamar mas pensou duas vezes antes de discutir com o chefe.
- Sério! Tão pensando que é sacanagem? Eu estava com ele em um bar, um dia desses, quando parou uma loira... Cara, não era uma loira normal. Era A loira. Sabe tipo cantora do Calypso? – tentei levar para o padrão de beleza apreciada pelo nosso querido Paulinho. Ela parou, estacionou na frente do bar a Mercedes conversível...
- Qual modelo? – perguntou Dudu inocente
- Sei lá que modelo, porra. E eu sou frango pra ficar reparando no carrocom uma loira daquela ali? Reparei foi na mulher. Rapaz, na hora eu pensei: se essa danada desse bola pra mim. Ela veio, sentou-se à mesa do lado da gente. Pronto. Na medida. Vou ficar só sacando ela daqui.
- Tu vai dizer que pegou a doida? Cabra mentiroso da porra. – Serginho se meteu.
- Bem que eu queria. Bem que eu queria mesmo. Não deu. Ela tava olhando pra mesa, dando uma sacadas, umas cruzadas de pernas indiscretas. Um rolo de coxa... Sabe quando mulher fica ajeitando o cabelo o tempo todo? Querendo chamar atenção? Pois é. Pensei logo que ia dar pra mim. Quando ela levantou e veio caminhado pra mesa da gente. Pronto. É agora.
Todo mundo prestava atenção, apenas Paulinho olhava ressabiado sabendo que aquilo nunca tinha acontecido.
- Quando achei que tava pra mim eis que a Loirona se dirige a quem? Quem? Nosso amigo Paulinho. Quase se derrete pra cima dele. Eu fiquei impressionado. Nunca tinha visto algo daquele jeito. Ela se derreteu pro cara.
Nesse momento Paulinho abriu um imenso sorriso, se encontrou na cadeira e deu um longo gole na cerveja. E daí que fosse mentira, ele era o fodão da história. O pegador.
- A mulher se jogou. Eu ate tentei chamar atenção, usar minha lábia. Nada funcionou. Ela mal percebia que eu estava na mesa. E a coisa foi rápida. Não demorou nada. Quinze minutos depois ela se levantou, puxou ele pela mão e o convidou para ir a outro lugar, um lugar mais tranqüilo.
A galera se manifestou. Paulinho recebeu tapinhas nas costas e ganhou um brinde.
- Eu vou continuar contando porque ele é muito modesto pra isso. O negócio é que a loira levou ele pra cobertura dela na Avenida Boa Viagem.
O sorriso de Paulinho já quase engolia as orelhas.
- Subiu com ele de mãos dadas. Casalzinho mesmo. Pense numa inveja que tive desse cara ouvindo isso. O apartamento devia ter uns 800m. A mulher era folgada na grana. Paulinho tirou na mega. Sorte grande, cara. Uma mulher daquelas e ainda estribada?
Paulinho crescia na cadeira, já acariciava os próprios cabelos lembrando-se do momento que ele nunca viveu.
- Ela o deixou sentado num sofá que quase o engoliu de tão macio. Ele ficou lá, sentadão, folgado, sabendo que ia se dar bem. A galega subiu as escadas...
- Escada? Mas não era um apartamento?
- Nunca ouviu falar de Duplex não, Dudu? Sim, onde parei? Ah, ela subiu e deixou-o lá. Paulinho só imaginando o que estava por vir. Doido de tesão. Já subindo pelas paredes. Aí ela apareceu no alto da escada...
Pausa dramática. Todo mundo jogou o corpo pra frente... Paulinho era só sorrisos e tomou o copo de cerveja de um só gole. Finalmente ele ia se dar bem.
- Desceu, puxando um menino e uma menina, ambos na casa dos sete anos, pelas mãos. Paulinho se ajeitou no sofá rapidamente, puxou um almofada pro colo pra esconder a peia que insistia em ficar dura apesar da surpresa. Ele ainda esboçou dizer alguma coisa mas ela apontou pra Paulinho e disse as crianças: ta vendo, se vocês dois não se comportarem o bicho papão vem pegar vocês!
Enquanto todos na mesa riam convulsivamente Paulinho percebeu que ainda não seria desta vez. É, as vezes eu sou mau.
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Um comentário:
"Ele inclusive tentou matar um dos colegas da Casa do Estudante, onde ele morava, com uma faca de cozinha"...
Foi quando ele virou a faca, viu o próprio reflexo e destransformou?
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