sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ser músico no Recife é mesmo uma merda


Já perceberam que Recifense, e quando falo Recifense me refiro a região metropolitana toda, é a raça menos bairrista do Brasil? Sim, este titulo é nosso. Tudo que é de fora é bom, tudo que é daqui é uma merda. Ao menos até ser reconhecido pelo pessoal de fora. Ah, depois de ser reconhecido no eixo Rio-São Paulo o cara vira artista, muitas vezes até cult. Se torna o músico que está levando a cultura recifense, pernambucana, para o resto do país. GRANDES MERDAS.

Lenine, por exemplo, era conhecido apenas no circulo cabecista intelectualóide até, já morando no Rio, ser "descoberto". Aí virou O Lenine, o cara que parece ter saído de um filme dos três mosqueteiros mas que é um músico sem igual. O mesmo aconteceu com nosso excelente músico, mas não tão bom motorista, Chico Science. Aqui era um cara da roda, da galera, até ser descoberto pelos olheiros nacionais como uma das maiores promessas musicais da cidade, lançando o manguebeat e se tornando um fenômeno - das antigas, do tipo que não curte traveco. A lista é grande, felizmente, o que prova que apesar de não reconhecermos nossos grandes músicos sozinhos ainda assim eles continuam surgindo, lutando contra este nosso preconceito idiota e tentando ganhar a vida fazendo o que gostam. Podíamos citar o Cordel, Mundo Livre, Eddie e outros mas hoje quero falar sobre João do Morro. Sabe quem é? Não? Só prova minha teoria.

João do Morro é um sambista muito famoso na periferia do grande Recife. Nascido e criado no morro, de onde segundo ele não planeja sair, faz samba como se deve, com escárnio, bom-humor e contestação. Sua música, segundo ele, é do povo e para o povo, e ele prova fazendo shows gratuitos para todos (para assistir basta subir o morro de Casa Amarela ou morro da Conceição e, acredite, é bem mais seguro que andar no calçadão de Boa Viagem) e vendendo seus CDs, produzido de forma independente, por apenas cinco royals.

Autor da famigerada Chupa que é de uva, assassinada pelo Aviões do Forró que, como todas as bandas de forró POP, costuma transformar música em merda. A música, que é originalmente um SAMBA, deu origem a crimes como Senta que é de menta e outras músicas de qualidade duvidosa, leva a marca de João, brincar com as palavras, avacalhar. Felizmente ainda podemos ouvir a versão original e limpar nossos ouvidos.

Ultimamente João vem sendo perseguido pelos grupos homossexuais por causa de algumas das músicas que escreve, se divertindo com o universo GLS. Em uma delas, Papa Frango, ele tira sarro com aqueles boyzinhos que são sustentados por viados - coisa que sempre existiu. Os melotinhas, apadrinhados por viados, existem e não são poucos. Há um certo estilista pernambucano que tem muitos. Ele curte dietas variadas. João, como todo músico do povo, escreve sobre o que vê e vive, e, como brasileiro, brinca e se diverte com as mazelas que atingem até a si mesmo. O que devia ser considerado uma grande qualidade se torna então alvo de protestos e policiamento por um grupinho hipócrita e mal-humorado.

Desta forma temos um grande talento de nossa música passando a ser reconhecido não pela qualidade daquilo que produz mas sim pela polêmica em torno de seu trabalho. Agora é esperar João ser descoberto no Rio ou em São Paulo para que possamos ver o Recifense batendo no peito e dizendo "Tá vendo, esse cara é daqui, de Recife, e toca na Globo". GRANDES MERDAS.

João do Morro - Ei Boyzinho, Você é Papafrango




João do Morro - Camarote Girl




João do Morro - Chupa que é de Uva




João do Morro - Pisa de Balaiage




João do Morro - Putaria



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Um comentário:

Madureira disse...

No final do post, tu só confirmou o que eu tava processando durante a leitura. Rede Globo, priu.