Todo mundo tem um amigo sequelado, um escroto e um idiota, que não é exatamente amigo, mas que vez ou outra insiste, contra a vontade de todos, de sair com vocês. Neste dia em especial eu estava acompanhado dos três.
Antes de tudo vou falar um pouco sobre o grupo que, naquele dia, se deslocava para João Pessoa, indo para um Rave que iria acontecer lá. Rave? Eden? Como assim? Calma, não vai ser hoje que vão me ver curtindo este tipo de som, eu estava indo porque tínhamos cuidado da divulgação da festa e eu precisava fazer uma frentezinha com o cliente. Os outros iam porque era boca livre mesmo.
Eu dirigia enquanto ao meu lado estava Carlos Cajueiro, excelente fotografo e grande amigo, escroto de marca maior, e com grande aptidão em pregar peças nos outros. Atrás iam Paulo Petitinga, ogro baiano, boa praça e um sacana sequelado. Do lado dele vinha o alvo. Vou chamá-lo de Zé, Zé Ruela, para proteger a identidade do coitado e privá-lo da vergonha de ver esta história se tornar pública. Se o pai dele fica sabendo dessa história corta a mesada do coitado (sim, o inútil, do alto de seus vinte e poucos anos, recebe mesada do papai).
Zé Ruela é o tipo de cara que você definitivamente não quer no seu grupo. Espaçoso, mentiroso e boçal, come mortadela e arrota caviar. Paga de rico mas tem cadastro em todas as lojas da 25 de março. O relógio é Rollex (com dois eles mesmo), o tênis é Naike (com ai mesmo) e carteira é Vitor Ugo (sem o h). Segundo ele já pegou todas as grandes modelos da cidade mesmo parecendo um lutador de sumô e não conseguindo manter uma conversa inteligente nem que isso lhe custasse a vida. Ou seja, o Zé Ruela era uma companhia indesejada e o alvo perfeito.
Estou eu concentrado no volante, curtindo o Amado batista que rolava no som (sempre me disseram que em Rave rolavam drogas e eu já estava no clima), quando peguei parte da conversa.
- Oxe, tu trouxe lança, foi Zé? – Cajueiro perguntou rindo.
- To aqui com o tubo entocado. – respondeu o gordo.
- Ei, porra, tu trás esta merda e se a policia nos pegar vai todo mundo pro tapa – me meti na conversa.
- Deixa de frescura, Eden, tu não quer é dizer ao gordo o que tu trouxe aí. – pelo olhar e pelo tom de voz percebi que lá vinha tiração de sarro.
- Cajueiro, porra, a gente tinha combinado que era segredo. – entrei na dele.
- Que nada, porra, dá pra dividir com os caras.
- O que é? Frescura, diz aí... o que é? – o gordo, como todo idiota, ficou curioso e caiu na conversa.
- Acho melhor não contar. – disse Paulo, que já tinha entendido o que estava acontecendo.
- Porra, Caju, contasse pra Paulo também?
- Aí é foda, só eu que não sei? Sacanagem.
- Patrão, posso contar?
- Conta, agora já foi mesmo. – falei sem saber o que viria da mente doentia de Caju.
- Gordo, é o seguinte – Caju falou baixando o tom, como se contasse um segredo – o Patrão me encomendou uma parada das brabas e eu trouxe o negócio aqui comigo.
- É? O que é? Diz aí!
Silêncio, só som rolava. Caju fazia uma cara suspeita, como se tivesse cometendo um grande crime.
- Vai cacete, diz aí!
- Eu trouxe a Brizola, velho.
- O quê?
- Brizola, velho. O pó, ta ligado?
- Pó?
- É, porra, cocaína.
- Oxe, mentira da porra, Eden pediu a tu cocaína? Eden é careta que chega a ser chato.
- Careta na frente dos outros, porra. Mas no meio dos amigos o cara arregaça. O cara é publicitário, né, gordo? Todo publicitário arregaça.
Juro que nessa hora eu achei que Caju tinha estragado a estória. Eu e drogas? Nem o Zé seria tão idiota pra cair nessa, não era possível.
- Caralho, velho, sempre quis experimentar essa porra. Mermão, você vão deixar eu dar uma fungadinha, né? – nunca superestime um idiota.
- E aí, Eden, rola?
- Rapaz, sei não, se o pai dele souber...
- Rapazzzzzzz... – Paulo resolveu fazer a parte dele na pegadinha – esse gordo nunca experimentou, vai ficar vidradão, viajando...
- Frescura, porra, sacanagem, deixa, vai.
- Tá bom, gordo, chegando lá tu dá uma cafungada por conta da casa – Caju emendou enquanto eu parava no posto para abastecer.
- Patrão, quando chegar em Jampa dá uma parada em uma farmácia. Vamos comprar adoçante em pó.
- Farmácia a essa hora? Sei não...
- Bom, se não tiver farmácia vai ser no açúcar refinado mesmo.
- Caralho, ao invés de overdose o gordo vai ter é diabetes.
O esquema estava montado.
Como não havia farmácia aberta no caminho o jeito seria apelar para o açúcar. Chegamos à festa e demos um jeito de despistar o gordo por alguns instantes, deixando ele com Paulo. Montada a cena era hora de chamar o otário, digo, o gordo.
Deixamos que o gordo tomasse alguma coisa e desse umas bicadas na lança dele, quanto mais anestesiado melhor afinal na festa não tinha açúcar refinado e o negócio ia ser na base do açúcar cristal mesmo.
- E aí, gordo, bora?
- Demorou. Cade a parada?
- Ta ali, Caju ta ajeitando. Paulo, pega aí a lança do gordo, se ele travar não cai com essa merda na mão – falei o alto de meu total desconhecimento sobre os efeitos da cocaína.
- Pega aqui, baiano. Cuidado com essa merda, hein?
Caju, escroto, fazia todo o leriado. Cara de desconfiado, protegendo a mesa com o corpo. Fez então três carreiras de “coca”. O gordo deu um pulo para frente, animado, tropeçando.
- Oxe, pode parar. A primeira é minha. – Cacete, pensei, não acredito que Caju vai dar uma cafungada no açúcar. É entrar demais no personagem. Mas Caju é safo. Ele pegou uma nota de dez reais, enrolou, assumiu a posição e... soprou o açúcar pra longe, protegendo a cena com o corpo para que o gordo não pudesse ver direito.
- Ahhhhhhh – disse com o ar travado – boa demais essa, é da colombiana, macho. Profissional.
Caju ficou todo retesado, olhando pra cima e balançando a cabeça para os lados, de olhos fechados. O gordo, estático, observava com um misto de desejo e apreensão. De repente Caju olha pra ele com os olhos injetados, o viado parecia estar possuído pelo tinhoso – não imaginava que ele fosse tão bom ator, e grita jogando perdigotos na cara do Zé Ruela.
- Vai logo, porraaaaaaaaaaaaaaaaaa. Mermãoooooooooooooooooo.
O gordo puxou um canudo do bolso e deu um passo a frente. Poft. Um tapão de Caju derrubou o canudo no chão.
- Qual foi, Caju? Endoidou?
- Oxe, gordo, ta de onda? Quer cheirar com canudinho? Porra nenhuma. Tem que cheirar com a onça ou não cheira.
- Tá massa – e o gordo enrolou uma nota de cinqüenta mangos para usar de canudo.
Silêncio. Todo mundo segurando o riso. O gordo preparado. Paulo roxo, sem ar. E vem a primeira puxada. Snifffffffffffffffffffffffffff.
- Caralho, velho, essa porra é doce!?
- Doce?! – Caju irrompeu em risadas – O cara tá viajando. Mermão, a parada é o seguinte, a coca parece diferente pra cada pessoa. Pra mim é azeda, pra Eden é ácida e tu deu sorte, pra tu ela é doce!
- E é?
- Mermão, vá fundo, arregace a outra carreira.
Sniffffffffffffffffffffffffffffff.
- Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuu. Velho, to travadão! – o gordo falou entre os dentes enquanto jogava a cabeça pra trás e começava a pular.
Eu fiquei com o “canudo” dele, ganhei cinquenta mangos, Caju quase teve um troço de tanto rir e Paulo vendeu o lança para um dos seguranças. E o gordo? Dançou travado a noite toda. Empurrou a turma na pista, pegou no cabelo das garotas e se sentiu o playboyzinho drogado durante toda noite. Só descobriu que tinha cheirado açúcar uns oito meses depois.
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6 comentários:
hehehe muito massa eden! show de bola o mais legal é saber que estavamos lá vendo isso kkkkkk! e rimos muito kkk!
Você foi o autor da bagaça toda, Caju. O alma sebosa chefe. Mas que foi muita onda foi. Nada como sacanear aquele mamão.
hahahahahaahaha... essa história é aquele tipo em que você sempre se diverte contando, mesmo que seja a 74671456756 vez!!! hahahahahahaha
Pois é, Tulinha, essa é realmente clássica.
senhores leitores deste post, eu como conheço a figura, sei bem que é verdade....
urinei-me de rir quando soube... e tive um trabalho tremendo pra esquecer a uns tempos atrás...
estava ficando desidratado.
a história é quente, e dou plena e total veracidade de cada vírgula que aqui foi exposta...
em outras palavras...
BWWWWWWWWWWHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAH
ô mané.
ps: eden, deixa esse post repercutir que emendamos na "admiradora secreta" dele.. sabe doq to falando né?
Com certeza, dá outro excelente post.
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