domingo, 10 de agosto de 2008
Meu primeiro quase acidente de carro
No dia dos pais vou contar uma história onde o meu pai era um dos protagonistas. Lembro-me como se fosse ontem. Ele chegou lá em casa, em um sábado as 14h, para conversar algumas coisas com minha mãe – estavam separados a mais de 9 anos e era raro eu ver o velho lá por casa. Eu estava de bobeira, com alguns amigos na varanda, fazendo hora para ir na casa de um colega copiar alguns jogos de Amiga (na época era o melhor computador para jogos que existia).
Cumprimentei o velho rapidamente (na época não tão velho), e comentei sobre meus planos para a tarde. “Espera um pouco que lhe dou uma carona até lá”. Eu juro que não esperava por essa mas achei ótimo. Por mais que quisesse gravar Blood Money ir a pé me parecia um sacrifício grande demais, a carona viria bem a calhar.
Eram umas 14h30 quando ele surgiu na porta, acompanhado de minha mãe. “E aí, vamos? Quem vai?”. E aí, galera? Quem vai? André de Marco concordou em ir. Os outros tinham programas diferentes. E, do nada, veio a pergunta estúpida do meu pai: “Já sabe dirigir?”. Porra, que pergunta idiota, hein? Ali estou eu, com meus 15 anos, na frente de 5 amigos. Se eu sei dirigir? CLARO QUE SEI. Bom, ao menos foi isso que eu disse pra não fazer feio na frente dos amigos. Grande besteira dizer isso, afinal, que mal faria contar essa mentirinha?
- Sabe mesmo dirigir, né?
- Claro, né painho! Pergunta besta. – respondi enquanto fugia dos olhares inquisidores de minha mãe que, certamente, sabia de minha mentira.
- Então você mesmo vai dirigindo.
- Ah? ! Eu?! Dirigindo?
- É, vai, assume aí o volante.
Pronto. F-U-D-E-U. O que eu podia fazer? Quais eram as opções? Desmentir minhas habilidades no volante – e virar motivo de galhofa – ou segurar a onda? Dirigir não podia ser tão difícil, não mesmo. E tinha um atenuante - tinha de ter. O carro era automático, eu não teria de encarar a troca de marcha e a embreagem – que até então eu não desconfiava pra que servia. Não devia ser diferente de um Bate-Bate de parques de diversão (na hora não relacionei a situação a ironia da comparação). Acelera e freia. Pronto. Na minha cabeça eu revi o que precisaria pra chegar na casa de Rodrigo. Não bater nos outros carros, não correr demais, fingir que tinha tudo sobre controle e não me cagar de medo. É, acho que dava pra encarar.
- Daqui essa chave que vou te mostrar como se faz. - disse cheio de bossa.
Lá estava o Del Reyzão, preto como a asa da graúna – e como meu futuro caso eu desse um arranhão no danado. Abri a porta, me sentei. Enquanto papai se sentava no banco do passageiro André e mamãe se ajeitavam atrás. Ajeitei a posição do banco, ajeitei o retrovisor, regulei os espelhos laterais - tudo como manda o figurino, tudo para o velho não desconfiar de que estava entrando na maior roubada.
Logo que dei partida percebi que a empreitada seria simples. Acelerei, devagarinho, e o carro saiu manso. Dei uma risadinha com o canto da boca enquanto procurava ver André pelo retrovisor. Ele era minha testemunha, ele que ia ter que dizer no colégio que eu dirigia bem demais, que era o foda. Só que ao invés de ver André com cara de inveja vi foi minha mãe com cara de terror. Coitada. Ela sabia que eu era marinheiro de primeira viagem e sustentou minha lorota calada. Amo minha mãe. “Cuidado no cruzamento”, “Mantenha a faixa”, “Fique na direita”, “Ultrapasse esse moleirão”- meu pai ia dando as dicas de co-piloto e eu ia seguindo, com as mãos suando, nervoso, mas firme e forte. Tudo ia bem. Até André abrir a boca.
- Eden, a casa de Rodrigo é nessa rua aqui, ó. – falou apontando para a rua que íamos passando naquele momento.
O viado do André podia ter ficado calado. Não se faz isso com um amigo. Ainda mais com um amigo que estava na minha situação. Quando ele deu o alerta fiz o que qualquer um na minha situação faria. Virei o volante com toda força para direita sem sequer diminuir a velocidade. Foi pneu gritando, meu pai se segurando no “eita porra”, minha mãe fazendo cara de mocinha de filme de terror dos anos 70 e André, coitado, tentando se afundar na cadeira enquanto procurava onde se segurar. Tudo ficou em câmera lenta enquanto o carro fazia aquela curva. O poste parecia correr contra o capô e eu, lá, sem saber se sorria ou chorava, virando o volante e sentando o pé no acelerador. E fiz a curva. Digno de filmes de ação.
Após a curva meu pai, aos gritos, me mandou parar. André estava estático. Minha mãe? Coitada, parecia em choque.
- Filho de uma puta! Como tu me faz uma dessas, seu porra? Tá pensando que está e Miami Vice? Desce do carro, vai logo, desce logo!
Eu ia fazer o que? Desci. Estava na frente do prédio de Rodrigo. André, coitado, desceu mudo, duro, com os olhos esbugalhados. Minha mãe não falava. O velho, arfando, assumiu o volante enquanto eu me afastava sem olhar para trás. Orgulhoso de ter chegado até ali. Orgulhoso de estar conseguindo andar com as pernas bambas daquele jeito. E assim começou minha vida automobilística.
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2 comentários:
Eden feliz dia dos pais...
vc é 10 com seus post ...
quanto a sogrinha... torço por você...bom fim de semana
Obrigado Carmem, sempre que puder eu dou uma contribuida lá. Manda um abração a todo mundo por aí.
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