Jantando ao lado do Rei

Logo que chegou na porta do restaurante Amaro sentiu um friozinho na barriga. Na hora bateu uma dúvida se era por causa do encontro de logo mais ou por perceber que a conta certamente levaria o 13º dele e mais um pouco. Ah, mas ela valia cada centavo. Luziane. Desde que ela havia começado como telefonista na empresa Amaro havia ficado completamente apaixonado. Aquela noite seria o primeiro encontro deles e tudo deveria sair perfeito.

Quando Amaro disse a ela que ia comer no La Betisiere, um dos restaurantes mais caros da cidade, ela aceitou de pronto – ele chegou a acreditar que tenha sido apenas para ter a oportunidade de freqüentar o restaurante mas depois percebeu que ela não poderia resistir a todo seu charme.

Ele ajeitou a gravata (que só tinha usado uma vez para ir ao casamento do chefe) e entrou. Identificou-se para o maitre e foi prontamente encaminhado para sua mesa. Enquanto seguia o maitre Amaro o viu. Amaro estancou no meio do restaurante, hipnotizado. Ele estava ali. Não podia ser. Ele estava logo ali. O Rei estava ali, dividindo o mesmo ambiente com Amaro.

Roberto Carlos, o Rei (pensou que era Reginaldo Rossi, né?), estava sentado numa mesa próxima, comendo e jogando conversa fora com um casal de amigos. Amaro sentou. Por mais que evitasse não conseguia deixar de olhar. Suas mãos suavam. O Rei. Ele sempre fora fã do Rei. Sabia todas suas músicas decoradas. Havia tirado o queijo, lá no puteiro da Vagem Mole, transando com Marieta Sabonete ao som de Emoções. Ele precisava fazer alguma coisa. Levantou-se e foi até seu ídolo.

- Aham – pigarreou – desculpe incomodar, seu Roberto...

- Pois não, bicho.

- Seu Roberto, desculpe interromper mas eu sou seu maior fã. Eu tenho todos seus discos, nunca perdi um especial de fim de ano da Rede Globo. Nunca. Olha, eu até namorei uma gordinha por causa de sua música. Se o Sr. diz que gordinha é bom é porque é mesmo.

- Pô Bicho, obrigado. Fico feliz em saber.

- Seu Roberto, sei que já estou lhe enchendo demais, mas posso lhe fazer um pedido? Um pedido de fã? Olhe, o Sr. sabe tudo sobre o amor, sabe o quanto é importante amar alguém. Eu to amando, seu Roberto.

- Massa, Bicho, massa. Mas o que eu posso fazer por você?

- Sabe, seu Roberto, ela está chegando já, vai sentar comigo ali na mesa e tal. Será que o Sr. não podia acenar pra mim, me cumprimentar mesmo? Ela ia ficar impressionada, vai ficar doidinha. Ela é tão fã do Sr. quanto eu. Por favor, seu Roberto...

- Claro, Bicho, claro. Com prazer. Como é seu nome mesmo?

- Amaro Batista Silva, seu criado.

- Fica frio, bicho, deixa comigo.

Amaro seguiu para sua mesa, certo de que sua noite estava ganha. Mulher nenhuma ia se negar a dar para um amigo do Rei.

Logo em seguida Luziane chegou. Roberto Carlos acompanhou a chegada dela enquanto pagava a conta. Amaro era só sorrisos, os olhos do pobre contador brilhavam de emoção. Roberto se emocionou com a paixão que viu nos olhos do fã. “Pô, Bicho, vou fazer mais que acenar, vou lá cumprimentar o rapaz. Isso vai garantir a fodinha dele” pensou.

Roberto, com aquele andar de deixa que eu chuto, seguiu num passinho meio ponto e virgula até a mesa de seu fã. Amaro, que acompanhava tudo com o canto dos olhos ajeitou-se na cadeira. Roberto se aproximou, olhou para Luziane com um sorriso imenso no rosto e a cumprimentou com um leve balançar de cabeça enquanto tocava o ombro de Amaro por trás.

- Amaro, meu querido amigo... – disse Roberto sorrindo.

Amaro então, com a cara mais lisa do mundo, virou-se devagar e respondeu.

- Caralho, Roberto, tu é muito chato velho, já disse pra me deixar em paz. Que cara insistente da porra.

Naquela noite Amaro deu a melhor foda de sua vida. Luziane fez amor com alguém importante, um cara que era procurado insistentemente por Roberto Carlos, o Rei. E Roberto? Esse continua sem usar bermuda. Saúde Beleza Mulher Estética Dermatologia Pele Medicamento Peso Feminina Exame Tratamento Cuidado Juventude